Esboçada em todas as pesquisas de opinião, a perspectiva de vitória de Dilma Rousseff deslocou o foco da oposição.

As cúpulas do PSDB e do DEM decidiram voltar suas atenções para a disputa travada nos Estados pelas cadeiras do Senado.

A iniciativa da articulação partiu de Fernando Henrique Cardoso. Ele deflagrou o movimento na semana passada.

Sem alarde, FHC dividiu suas apreensões com Jorge Bornhausen, presidente de honra do DEM; e Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Acha que, confirmando-se o triunfo de Dilma, não restará à oposição senão erguer no Legislativo barricadas contra a “dominação” petista.

Dá-se de barato que a maioria governista na Câmara, acachapante sob Lula, tende a ser ainda maior numa eventual gestão Dilma.

E tenta-se reproduzir no Senado o quadro que permitiu à oposição impor ao Planalto derrotas como a rejeição da emenda que prorrogava a CPMF.

Excluído da campanha tucana de José Serra, que prefere exibir Lula no rádio e na TV, FHC declara-se, em privado, preocupado com os rumos da própria democracia.

Revela-se receoso de que a expectativa do poder longevo leve o petismo a tentar mimetizar no Brasil o modelo autocrático do venezuelano Hugo Chávez.

Enxerga no Senado a única trincheira na qual a oposição ainda pode se posicionar para deter eventuais "arroubos antidemocráticos”.

Ficou combinado que, em entrevistas e artigos de jornal, os líderes da oposição devem ostentar um discurso voltado à classe média.

Em essência, vai-se esgrimir a tese segundo a qual o poder do Executivo precisa ser submetido ao contrapeso de um Congresso capaz de vigiá-lo.

Candidato ao Senado pelo DEM do Rio de Janeiro, o ex-prefeito Cesar Maia foi o primeiro a levar o discurso aos lábios.

Num vídeo que pendurou em sua página na internet, na última sexta (20), Cesar Maia fez referência ao Datafolha.

Sem meias palavras, disse que a vantagem de 17 pontos percentuais atribuída a Dilma leva a um deslocamento do “foco para as eleições do Senado”.

“Essa é uma questão da maior preocupação de todos nós, que somos amantes da democracia”, disse Cesar Maia.

“Queremos evitar que, no Brasil, aconteça o que aconteceu na Venezuela", acrescentou. Para ele, o “jogo” agora é “o controle do Senado”.

No centro das apreensões de tucanos e ‘demos’ está um número mágico: 47. É esse o escore necessário à aprovação de uma emenda constitucional no Senado.

Hoje, Lula dispõe da maioria dos votos dos 81 senadores. A supremacia é, porém, apenas nominal.

Em articulação com dissidentes governistas, a oposição impôs derrotas ao governo até em votações de projetos que exigem a maioria simples de 41 votos.

Atento à fragilidade do consórcio que lhe dá suporte no Senado, Lula empenha-se em prover para Dilma um cenário mais confortável.

Em público, o presidente pede votos em comícios para sua pupila e também para os candidatos ao Senado alinhados com o governo.

Para sensibilizar as platéias, Lula não se cansa de recordar que, ao derrubar a CPMF, a oposição o privou de injetar R$ 40 bilhões na saúde.

Entre quatro paredes, Lula afirma aos políticos que o cercam: “Um senador vale mais do que três governadores”.

Nas eleições de 2010, estão em jogo 54 dos 81 assentos do Senado. Deve-se ao Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) o estudo mais completo sobre prognósticos.

O levantamento carece de atualizações. Mas é, por ora, o que mais se aproxima da guerra travada nos Estados.

O documento esboça um quadro pouco alvissareiro para a oposição. Estima que o PMDB deve conservar nas urnas a condição de dono da maior bancada do Senado.

Prevê que o PT pode saltar da quarta para a segunda colocação em número de senadores. E vaticina a redução das bancadas oposicionistas.

Hoje, PSDB e DEM operam com 14 senadores cada um, atrás do PMDB e à frente do PT.

Tomados pelas previsões do Diap os tucanos correm o risco de ser deslocados para a terceira posição. E os ‘demos’ para a quarta. Daí a preocupação de FHC e Cia..

Escrito por Josias de Souza

FONTE: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/