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(George Burns)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Síndrome de vira-latas: a mídia com saudades do senhor imperial

Circula na internet um excelente artigo de Leonardo Boff, no qual ele trata o comportamento da imprensa brasileira na cobertura da política externa do governo Lula sob a ótica da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, que analisa a dialética do senhor e do servo. “O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo.”
Por Mair Pena Neto, no Direto da Redação
Boff identifica este comportamento na imprensa brasileira, que já se revela há muito tempo, mas ficou ainda mais explícito na mediação conduzida por Lula e pelo primeiro-ministro da Turquia da crise nuclear iraniana. O sucesso da missão de Lula, reconhecido na maior parte do mundo, foi negado pela imprensa brasileira, que tentou desqualificá-la com argumentos dignos dos mais raivosos falcões norte-americanos.
Para Boff, as opiniões da imprensa brasileira e da maioria de seus colunistas revelam que essas pessoas “têm saudades deste senhor imperial internalizado” e “não admitem que o Brasil ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante”. “Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.”Afinal, onde já se viu um presidente brasileiro não se levantar para o presidente norte-americano, como fez Lula em 2003, durante a reunião do G8, em Evian, na França. Questionado sobre a atitude, já que os demais presentes se levantaram, Lula respondeu singelamente: “Ninguém se levantou quando eu entrei.”
Os nossos colunistas não dispensaram tantas linhas de condenação quanto escrevem agora quando o chanceler brasileiro no governo de Fernando Henrique Cardoso tirou os sapatos para entrar nos Estados Unidos. A atitude de total subserviência já está assimilada no complexo de vira-latas, que perdemos no futebol ao vencermos a Copa de 1958, mas que se mantém na imprensa brasileira em termos de política externa.
O assunto parece não ter fim e foi retomado pelo jornalista Elio Gaspari na coluna que escreve para os jornais O Globo e Folha de S.Paulo. O jornalista classifica a diplomacia de Lula de “amoral”, pelo “beneplácito” que tem com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e justifica a atitude semelhante do governo turco com o argumento pequeno de ser um país vizinho ao Irã, enquanto Brasília está a 11 mil quilômetros de distância. Mais uma vez a síndrome de vira-latas se revela. Ao Brasil, cabe cuidar do seu mundinho, quiçá dos seus vizinhos sul-americanos. Por que se meter em questões tão distantes, já que somos um país de terceira? É a lógica do senhor totalmente arraigada e se manifestando sempre que se tenta sair dela.A cura de síndromes exige tratamentos psicológicos e grandes vitórias. Para superar o medo de passar em túneis é preciso cruzá-los em algum momento para ver que não oferecem perigo. A imprensa brasileira ainda não se livrou do complexo subalterno que o país teve na arena internacional durante grande parte de sua história. Se comporta como alguém psicologicamente abalado que se recusa a enxergar o que está a sua frente.

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