Uma das características do sistema econômico em que vivemos é o poder de acentuar desigualdades. Assim na crise como nos tempos de bonança, a parte do leão, ao se partilharem riquezas, fica sempre com o capital, reservando-se ao trabalho as migalhas que sobram no banquete dos patrões. A débâcle no sistema financeiro mundial ensejou, por toda parte, a reprise desse fenômeno. Chantageando governos, com a ameaça de demitir massivamente seus funcionários, as grandes empresas extorquiram bilhões de dólares, pelo que os manda-chuva deverão sair da crise ainda mais ricos do que quando entraram. Nos Estados Unidos, Barack Obama escancarou as portas do tesouro e repassou rios de dólares (US$ 1,5 trilhão, se diz) aos bancos, seguradoras e montadoras. Com resultados pífios. O desemprego atingiu 7,2% e 2,6 milhões de postos de trabalho diluíram-se em 2008. O PIB despencou, configurando a recessão. Enquanto isso, no andar de cima das megaempresas, a farra continuou. No momento em que US$ 170 bilhões do contribuinte eram injetados na AIG, os mais altos executivos da seguradora recebiam bonificação de US$ 165 milhões. Na França, um diretor da Valéo, empresa do setor automobilístico, recebeu indenização de 3,2 milhões de euros, gerando cálida polêmica. Mas são essas as regras do sistema. Sempre foi assim. Nos anos noventa, por exemplo, a remuneração média dos executivos das multinacionais aumentou 150%, enquanto o salário médio do empregado cresceu 28%. Em 1960, a diferença entre um e outro era de 15 vezes. Hoje é imensurável. A concentração de renda é uma realidade mundial e se agrava na medida em que o capitalismo se torna cada vez mais hegemônico. A crise tem seus dias contados. Vai passar, no momento em que for mais conveniente para o grande capital. Ao final, milhões de trabalhadores terão perdido seu emprego. No alto da pirâmide, porém, os donos da grana estarão se refestelando. E levarão muito tempo para contabilizar seus lucros.
Ítalo Gurgel - Jornalista e escreve artigos para o Jornal O POVO de Fortaleza
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