PARA REFLETIR...

"Eu preferiria ser um fracasso em algo que amo, do que um sucesso em algo que odeio."
(George Burns)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

FOI REALMENTE PEDRO ÁLVARES CABRAL QUE DESCOBRIU O BRASIL??????

A HISTÓRIA É CONTADA PELOS VENCEDORES... ISSO É FATO!
AGORA, leiam a entrevista realizada em 2005 pela jornalista Thaís Barbosa com o também jornalista Rodolfo Espínola acreca de sua tese sobre o descobrimento do Braisil (por sinal tenho esse livro), disponível no endereço: http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=2277

Autor dos livros "Vicente Pinzón e a descoberta do Brasil" e "Conquistas e Tragédias", o jornalista Rodolfo Espínola conta como se apaixonou pela história do Brasil que não está nos livros da escola. E fala também de sua ligação com a área portuária.


Portogente – O que lhe motivou a escrever o livro “Vicente Pinzón e a descoberta do Brasil”?
Rodolfo Espínola - O meu livro Vicente Pinzón e a Descoberta do Brasil é o resultado da uma inquietação de um repórter. O escrevi basicamente por duas razões: 1 – por conhecer o assunto há mais de 10 anos, quando publiquei matéria de página inteira no Diário do Nordeste, em 1991, a partir de entrevista com o historiador Guarino Alves, já falecido, que defendia a tese do desembarque de Pinzón na ponta do Itapagé, no litoral cearense; e, 2 – por causa da maciça campanha da imprensa (o Brasil nasceu na Bahia) em fins de 1999, quando produzi uma série de 10 matérias (também de pagina inteira) para o jornal O Povo sobre Pinzón (o personagem), sua viagem e as derrapagens (intencionais ou não) sobre o Descobrimento do Brasil. Depois dessas matérias no O Povo, mergulhei com mais profundidade no assunto, pesquisando dentro e fora do Brasil, a partir de material que recolhi junto ao Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha (do Brasil), no Arquivo das Índias, em Sevilha, na Torre do Tombo e Museu da Marinha (Portugal), Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho e entrevistas com professores doutores também dentro e fora do Brasil. Com esse material, apoiado em farta e rica documentação bibliográfica, passei um ano e meio para conclui-lo. Minha idéia, desde o primeiro instante não foi em nenhum momento reduzir ou minimizar Cabral nem a presença portuguesa, mas a de incluir na nossa historiografia esse personagem, Vicente Pinzón, perversamente colocado à margem dos nossos livros de historia sem nenhuma explicação plausível. Raros são os autores que tocam na prioridade espanhola. Muitos simplesmente o ignoram. É mais fácil e cômodo.

Portogente - Porque foi Pedro Álvares Cabral e não Vicente Pinzón que acabou levando as glórias do descobrimento do Brasil? Rodolfo Espínola - Essa é uma grande pergunta. Quase inexplicável. Vamos por parte: ao longo dos tempos (ai vão séculos) sempre se tentou transmitir uma idéia triunfalística da presença de Cabral no Brasil. Claro, ele teve os seus méritos, mas se colocarmos uma lente sobre sua viagem e seus resultados, verificaremos que o que aconteceu não foi tão retumbante assim. É claro que o colonizador teve especial interesse em criar em torno de Cabral uma imagem de grande navegador, que Portugal o teria mandado para a Índia, com uma escala no Brasil, na perspectiva de assumir novas terras. Nada disso é palpável: com todo respeito, Cabral nunca foi um grande navegador. Nunca tinha feito uma grande viagem. E nem existe documento que prove sua passagem intencional pelo Brasil. Ele, ao contrário, estudou para ser embaixador, um fidalgo, como sempre o foi. E em termos documentais, o que sobrou – e esta guardado na Torre do Tombo – é sua nomeação como capitão-mor para fazer uma viagem á Índia. Nada mais. Não existe pelo menos ate hoje qualquer elemento documental que prove (ou pelo menos insinue) sua escala pelo Brasil. Defendo a tese da sua passagem por aqui (como a de Pinzon também) por mero acaso.
Portogente – Se sua tese está correta porque ela não é descrita nos livros de história didáticos. E o que seria possível fazer para que isso mudasse?
Rodolfo Espínola – Veja o seguinte: em nenhum momento pretendi dizer que essa tese (que não é minha, afinal discute-se isso há mais de 100 anos, a partir de Capistrano de Abreu, Francisco Adolfo Varnhagen e outros respeitáveis historiadores do século XIX) é a verdadeira. É apenas uma tese, como, por exemplo, existem outras tanto defendendo esse ou aquele navegador. Existe, por exemplo, uma corrente de historiadores portugueses, a partir dos conceituados professores Jorge Couto e Joaquim Barradas que defende a presença de um navegador português (Duarte Pacheco Pereira) anterior ao Pinzon e ao Cabral, em 1498. É uma outra tese, uma outra argumentação que respeito profundamente, mas observo que “tudo o que foi colocado sobre esse navegador esta no patamar das especulações, condicionalmente, porque não existe nada de concreto em termos documentais”. Como existe, também, outra corrente que imagina ter sido o italiano Américo Vespucio o primeiro europeu a pisar em solo brasileiro. Respeito-as todas. Imagino que seria bastante interessante incluir essas informações nos livros de historia do Brasil, afinal de contas, naquele momento, o inicio do século XVI outras nações (importantes) da Europa estavam também buscando encontrar o tão desejado caminho para a Índia. A nossa historia falha quando não disseca esse e outros aspectos relacionados com a que poderíamos chamar de “corrida para a Índia”. Raros são os livros de historia que oferecem um pouco mais de informações sobre essa inquietação. No nosso caso particular, da historia do Descobrimento do Brasil, desloca-se, após meia dúzia de palavras sobre o desembarque cabralino, os contatos com os índios e as duas missas etc (em cima da carta de Caminha) para o período colonial. Veja: tão ou mais importantes quanto à carta de Pero Vaz existem as cartas do Piloto Anônimo e do Mestre João. São pouco conhecidas, entretanto são extremamente ricas em termos de informações. Respondendo especificamente a sua pergunta, informo que em 2002, o deputado Feu Rosa, do Espírito Santo, apresentou projeto de lei propondo a mudança do nome do descobridor, da data e do lugar do Descobrimento do Brasil. Referido projeto foi arquivado ano passado. Diante dos documentos que atestam o desembarque de Pinzón na Ponta do Mucuripe, em janeiro de 1500, praticamente não temos mais nenhuma duvida que este navegador foi o primeiro europeu a pisar em solo brasileiro. No litoral do Ceará, por exemplo, ele teria tocado em três locais distintos: na Ponta do Mucuripe, que ele chamou de Santa Maria de la Consolacion, no rio Fermoso (que corresponde hoje com a foz do rio Ruru) e na Ponta de Jericoacora. Esse é um assunto extremamente sério, complexo e, claro, polemico, afinal estamos tocando no inconsciente coletivo de um povo, de uma nação que há anos (e séculos) entendeu de outra forma o ponto zero do Brasil. Evidentemente que os conservadores não tem interesse em tocar neste assunto, embora seja muito fácil colocar um ponto final na historia para encerrar uma discussão.

Portogente – Qual seria o verdadeiro lugar onde Pinzón desembarcou: Mucuripe, Itapajé ou Santo Agostinho?
Rodolfo Espínola - Essa também é uma pergunta difícil, em razão de cada pesquisador defender o que lhe parece mais convincente. Pelos estudos que desenvolvi ao longo destes últimos cinco anos (com maior intensidade e, repito, não pretendo ser o dono da verdade), estou convencido (e aqui não vai nenhuma gota de bairrismo, acredite) que foi na Ponta do Mucuripe onde aconteceu o desembarque do primeiro europeu no Brasil. Foi o navegador Vicente Yanez Pinzón, no dia 26 de janeiro de 1500, no lugar que ele batizou de Santa Maria de la Consolación, local este que a moderna cartografia indica como sendo a Ponta do Mucuripe. E não sou eu quem está dizendo isso: o historiador paulista Francisco Adolfo Varnhagen, no século XIX, através do seu Historia Geral do Brasil, sustenta com forte argumentação essa versão. Agora, em 1975, o insuspeito e prestigiadíssimo (dentro e fora do Brasil) almirante Max Justo Guedes, ex-diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, refez milimetricamente a viagem de Pinzón, a partir de acurado estudo do mapa do cartógrafo Juan de la Cosa, e não deu outra: o desembarque de Pinzon teria acontecido mesmo na Ponta do Mucuripe, a 3º e 42 ” S. O que eu fiz: aluguei um helicóptero e, com um GPS na mão, foi bater em 3º e 42” S. Deu na Ponta do Mucuripe. (***). E mais: na Espanha, professores-doutores do porte de um Juan Manzano e Manzano, ex-diretor do Arquivo Geral das Índias, Jesus Marco Varela, da Universidade de Valadollid e Francisco Morales Padron através de minuciosos estudos revelam ter sido na Ponta do Mucuripe o desembarque de Pinzón. Daí o meu convencimento, em razão de nenhum deles ter interesse de apontar este ou aquele lugar para beneficiar este ou aquele lugar. Em relação à idéia do esforçado historiador Guarino Alves, que defendeu quando em vida a tese de Pinzón ter chegado inicialmente na Ponta do Itapagé, tal conjectura foi revista pelo próprio, a partir de uma troca de correspondência com o almirante Max Justo Guedes. E, quanto à versão segundo a qual Pinzón teria chegado em Santo Agostinho, realmente isso é verdadeiro: só que ele o fez em 1504, numa segunda viagem para a Índia, conforme está largamente comprovado por estudos de especialistas brasileiros e espanhóis. Mais um detalhe: o lépido navegador espanhol esteve uma segunda vez em Cabo de Santo Agostinho, em 1508, acompanhado pelo navegador Juan Dias de Solíz. Essa terceira viagem ao Brasil, passando por Santo Agostinho, está fartamente comprovada.

Portogente – Então, tudo indica que o Brasil foi descoberto em 26 de janeiro de 1500, em Mucuripe?
Rodolfo Espínola - A data 26 de janeiro aparece na maioria dos livros (e documentos) que relatam a primeira viagem de Pinzón, desde Pietro Anghuieria, Navarrete e outros importantes autores do século XVI. O mapa de Juan de la Cosa, elaborado em fins de 1500, foi decisivo para determinar o périplo de Pinzón no século XVI, a partir da sua descoberta no século XVIII, na França, e confirmada sua autenticidade pelo pesquisador Humbold. Mais recentemente, referido mapa foi submetido a exames técnico-científicos (carbono 14), quando teve sua idade confirmada. E mais: os relatos que falam da primeira viagem de Pinzón (para a Índia) informam ter ele saído da ilha de Santiago, no arquipélago do Cabo Verde, no dia 13 de janeiro para atingir Santa Maria de la Consolación exatos 13 dias depois, local este que corresponde com a Ponta do Mucuripe, a 3º42”S. O original do mapa de De la Cosa está, hoje, exposto no real Museu Naval de Madri, protegido por um forte esquema de segurança.

Portogente – Segundo seu livro Vicente Pinzón também foi o primeiro a chegar a Amazônia e a ver o fenômeno da pororoca, certo?
Rodolfo Espínola - No meu livro “Vicente Pinzón e a descoberta do Brasil” (único no Brasil dedicado exclusivamente a esse personagem e a sua viagem, com 326 paginas) relata a viagem de Pinzón de Santa Maria de la Consolaciona, (Ponta do Mucuripe) até Santa Maria de la Mar Dulce, no Amazonas. Tudo esta detalhadamente descrito pelo mapa de Juan de la Cosa. Em Palos de la Fronteira, cidade natal de Pinzón, conhecida como a “cunha dos descobrimentos”, atribui-se também a este navegador o titulo de descobridor do Amazonas, exatamente em função da minuciosa descrição que faz da região. Principalmente do Rio. Detalhe: ao longo do seu périplo, estimado entre 600 e 700 léguas, ele saiu dando nomes aos princípios rios e acidentes geográficos que encontrou. Depois do Santa Maria de la Mar Dulce, ele mandou que fosse colocado o seu nome no próximo grande rio. É o atual rio Oiapoque. Isso é fato. É historia. Está fartamente comprovado pela cartografia dos 500.

Portogente – Já que não está nos livros de história conte-nos um pouco quem foi Vicente Pinzón?
Rodolfo Espínola - Era um grande navegador que na sua juventude chegou a praticar a pirataria em águas mediterrâneas, na perspectiva de roubar açúcar para distribui-lo entre os moradores da pequena Palos. Era filho de Mayor e Martin Alonso Pinzón, nascido em 1461. Adulto, navegava com seus irmãos Martin Alonso, mais velho e o mais abastado e Francisco, comercializava sardinhas pelo Mediterrâneo e norte da Europa, como também por portos do norte da África. Foi um dos descobridores da América, na viagem pioneira de Colombo, em 1492. Era o comandante da Nina. Martin Alonso, o mais experiente comandava a Pinta. Foi ele quem salvou Colombo quando, regressando para a Espanha, naufragou a Santa Maria, na altura do Haiti, na noite de Natal de 1500. Aos irmãos Pinzón, Colombo ficou lhes devendo o êxito da missão (de descobrir a América, que eles pensavam tivessem chegando a Índia), e dinheiro (porque Martin Alonso cobriu parte das despesas para organizar a flotilha) e a vida, referente ao naufrágio da Santa Maria. Oito anos depois, devidamente autorizado pelos Reis Fernando e Isabel, desembarcou, acompanhado por cerca de 100 homens, no lugar por ele batizado de Santa Maria de la Consolación, comandando uma esquadra com as caravelas Frarley, Vicente Yanes, Pinta e Nina (essas duas eram as mesmas que estiveram na viagem de descobrimento da América). Referida viagem do ponto de vista econômico foi um fracasso, mas extremamente importante. Depois, em 1504, numa segunda viagem ao Brasil (provavelmente para tomar posse das terras lhes conferidas pelos Reis Católicos, conforme ato assinado no dia cinco de setembro de 1501, nomeando-o capitão governador das terras descobertas no ano anterior), ele atingiu o Cabo de Santo Agostinho no comando da caravela Gorda. Anos mais tarde, em 1508, com Juan Dias de Soliz, repetindo quase a mesma rota das duas viagens anteriores, ele passou pelo Cabo de Santo Agostinho, indo até Cabo Frio.

Potogente – Há quanto tempo você é jornalista, onde estudou e trabalhou? E o que lhe motivou a começar a escrever livros, já que está na metade de um terceiro projeto?
Rodolfo Espínola– Tenho mais de 30 anos de batente. Exatos 34, 30 dos quais como repórter para os veículos do Grupo Estado, desde O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, Agencia Estado, Radio Eldorado e Broadcast Teleinformática. Fui um dos fundados da Agencia Estado (concebida numa saleta no sexto andar do prédio, da Major Quedinho, 28), com Alaur Martin, Luiz Salgado Ribeiro, Sircarlos Ramos e um grupo de repórteres do Estado. Ao longo de minha atuação no Estado participei de equipes que ganharam o Prêmio Esso (nacional) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), além de outros regionais e locais. Participei de coberturas nacionais e internacionais, sempre para O Estado, mas trabalhei igualmente para a antiga EBN (Empresa Brasileira de Notícias), que foi incorporada pela Radiobras e revistas do extinto Grupo Visão. Estudei Sociologia na Universidade de Fortaleza (Unifor) e atualmente estudo Historia na UVA. O trabalho que fiz sobre Pinzón, desde as primeiras reportagens até o meu primeiro livro (já terminei um segundo e já estou no meio de um outro) não foi mais do que uma grande reportagem investigava obedecendo às mais modernas técnicas do jornalismo. Não pretendo ser um ponto final nessa historia, nem me passar por eventual dono de uma verdade histórica. Longe disso, afinal, acredito que, quando se cuida da historia de uma Nação, toda discussão é alvissareira, ainda mais quando resulta em conclusões que estreitam os já consolidados laços de amizade entre povos irmãos, como a gente espanhola e brasileira.

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