Conhecedor das lutas sociais, o religioso, jornalista e escritor foi o grande destaque da Feira do Livro 2011 em Mossoró
Postado em 14/08/2011 às 07:42 horas por Mário Gerson na sessão Cultura do Jornal Gazeta do Oeste
Sayonara Amorim
Da Redação
Frade, jornalista, escritor e revolucionário. Um homem que tem sua trajetória marcada por lutas em prol dos menos favorecidos e que se utilizou da capacidade de criar e pensar, aliada ao conhecimento, para atuar nas lutas sociais no Brasil e no mundo. Assim pode se resumir a figura de Frei Betto, um dos mais importantes e respeitados intelectuais do País.
Frei Betto foi um dos palestrantes da 7ª Feira do Livro de Mossoró, um convidado que acabou roubando a cena e fazendo de sua participação um dos episódios mais concorridos do evento.
Na plateia, sindicalistas, trabalhadores, estudantes e autoridades. Intermediada pelo professor Antônio Capistrano, a palestra tratou sobre vários temas: greve, ditadura, política, mídia, drogas, entre outros assuntos...
Frei Betto fez questão de responder a cada pergunta com simplicidade. Antes, agradeceu ao convite dos organizadores da feira e ressaltou o trabalho dos profissionais responsáveis pelo evento, do motorista aos escritores.
No início da palestra Frei Betto fez um relato de suas obras e ressaltou o trabalho do escritor Graciliano Ramos, que declarou ser uma de suas fontes de inspiração. Em sua fala, uma crítica severa à mídia televisiva, que para ele se coloca como um importante contribuinte para o emburrecimento de uma nação. “A TV tem o papel de produzir indivíduos consumistas e a escola deveria combater isso, já que deve formar cidadãos, educar o olhar dos estudantes, além de incentivar o senso crítico”, frisou.
Ainda sobre a influência negativa da mídia, ele acrescentou que nem mesmo as crianças que têm uma inesgotável capacidade de filtrar e descartar, estão isentas dos “monstros da TV”. “Os produtores de TV são tão monstruosos que encontraram uma forma de alcançar o público infantil, se utilizando de um ponto fraco dos pequenos, que é o estímulo à erotização precoce. Isso precisa ser combatido”, destacou.
Ele acrescentou que a partir dos ensinamentos de Jesus é possível ter uma vida mais justa. “Jesus expressava um amor incondicional, isento de preconceitos. Este exemplo deve ser seguido e incentivado. A igreja tem que exercer esse papel de forma mais expressiva, como já aconteceu nos movimentos da Pastoral Jovem”, lembrou.
Professores em greve recebem apoio de Frei Betto
Durante a palestra, um momento foi dedicado à crise pela qual passa a educação. Muitos professores participaram do evento e tiveram a oportunidade de se expressar. O primeiro representante foi o delegado regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (SINTE) Rômulo Arnaud. Ele expôs a situação pela qual passa a categoria: desvalorização e descaso por parte do Governo do Estado.
'A educação no Brasil: será como nos Estados Unidos, privilégio para poucos'
Ele questionou: Que país e este que ojeriza uma profissão como a de professor? Antes que o palestrante se pronunciasse sobre a indagação, todo o público presente aplaudiu. “Fica fácil responder depois de uma reação como essa”, disse Frei Betto. “Isso se chama desqualificação do magistério. Faz parte do capitalismo e da forma como está se encaminhando a educação no Brasil: será como nos Estados Unidos, privilégio para poucos”, expôs.
No Circo da Luz, uma comissão de professores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) se fez presente, assim como um grupo de estudantes que exibiam uma faixa com a seguinte frase: “A Uern vai acabar se a gente não lutar”. Diante destas manifestações Frei Betto se expressou com admiração e se solidarizou com a categoria, ressaltando que é necessária uma ação mais marcante por parte dos estudantes. Segundo ele, os movimentos estudantis têm um papel importante na luta por uma educação de qualidade. Além disso, pediu aos jovens que se unissem em prol desta causa.
Sob aplausos, Frei Betto encerrou a quinta-feira, com uma noite marcada por grandes temas e verdadeiras opiniões de quem conheceu a dor da tortura e decidiu dedicar a vida às causas sociais.
O AUTOR – Frei Betto escreveu 51 livros, editados no Brasil e no exterior. Nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Frade dominicano e escritor, ganhou, em 1982, o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu livro de memórias Batismo de Sangue. Em 1986 foi eleito Intelectual do Ano pelos escritores filiados à União Brasileira de Escritores, que lhe deram o prêmio Juca Pato por sua obra Fidel e a religião. Seu livro A noite em que Jesus nasceu (Editora Vozes) ganhou o prêmio de Melhor Obra Infanto-Juvenil de 1998, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2005, o júri da Câmara Brasileira do Livro premiou-o mais uma vez com o Jabuti, agora na categoria Crônicas e Contos, pela obra Típicos Tipos – perfis literários (Editora A Girafa).
Foi coordenador da Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOS), participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Central de Movimentos Populares (CMP). Prestou assessoria à Pastoral Operária do ABC (São Paulo), ao Instituto Cidadania (São Paulo) e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Foi também consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Em 2003 e 2004 atuou como Assessor Especial do Presidente da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Desde 2007 é membro do Conselho Consultivo da Comissão Justiça e Paz de São Paulo. É sócio fundador do Programa Educação para Todos.
Fotos: Fred Veras – Feira do Livro
FONTE: e-mail de Rômulo Arnoud (Sinte-RN)
FONTE: e-mail de Rômulo Arnoud (Sinte-RN)
Nenhum comentário:
Postar um comentário