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"Eu preferiria ser um fracasso em algo que amo, do que um sucesso em algo que odeio."
(George Burns)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Onde há uma vontade, há um caminho": acalanto a Obama por Fatima Oliveira*


"In pectoris" na posse de Obama, carrego um baú de provérbios do seu país natal e dos ancestrais, Quênia e Irlanda, envoltos num dito popular francês: "Não podes fazer uma omelete sem quebrar os ovos"; "Quando estás certo, ninguém se lembra; quando estás errado, ninguém esquece" (irlandês); "Nunca esqueça as lições aprendidas na dor" (africano); "Nós não herdamos esta terra de nossos antepassados; nós a pedimos emprestada de nossas crianças" (queniano); e "Dentro de mim há dois cachorros. Um é cruel e mau, o outro muito bom. Os dois sempre brigam. Ganha aquele que eu alimento mais frequentemente" (norte-americano).
Obama seguirá o provérbio norte-americano: "Ama o teu vizinho, mas não derrube a cerca que separa as vossas casas", implodindo o ar de hipersoberania, imperial e bélica, dos Estados Unidos? Ouviu o ícone Nelson Mandela: "Estamos confiantes de que lutará em toda a parte contra os flagelos da pobreza e da doença?" Espero que, como Abraham Lincoln, só limpe seus próprios sapatos. E está de bom tamanho para o mundo, face à herança maldita que recebe: economia em frangalhos, um sumidouro de milhões de postos de trabalho; um país onde um em cada três negros de 16 a 24 anos está sob algum tipo de supervisão da Justiça criminal; imolação de jovens em guerras injustas; e mais de 40 milhões de pessoas sem cobertura de atenção à saúde. Obama sabe que "onde há uma vontade há um caminho" (norte-americano), pois disse: "Acredito que, na teoria geral, se a mãe é feliz, todo mundo é feliz". Nada simplório. Apenas lição de vida.
A posse de Obama celebra um chamado à união do país contra uma catástrofe econômica e por uma nova moral política. Na liturgia do cargo, refez, em 17.1, com o vice Joe Biden e suas famílias, a viagem de trem de Lincoln da Filadélfia a Washington, onde uma euforia popular os recebeu. Em 18.1, depositaram flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, na Virgínia. Em 19.1, feriado de Martin Luther King, reverenciaram o mártir da luta contra o racismo e autor do célebre discurso "Eu tenho um sonho". O "We are one/Obama Fest, no Lincoln Memorial, que durará três dias, com estrelas mundiais da música, abriu as celebrações, em 18.1, com um discurso de Obama. São dez "festas de posse", incluindo o "Kids Inaugural" (das crianças), cujo ápice será o Concerto de Boas Vindas, dia 20, no Lincoln Memorial, antes da posse.
Obama Fest tem aura de conto de carochinha. Estima-se em mais de 2 milhões o público da parada da posse de Barack Hussein Obama, desfile do 44º. presidente dos EUA do Capitólio, sede do Congresso, à Casa Branca, ambos construídos por escravos. Foi em memória deles também que o primeiro presidente negro dos EUA convidou para sua festa quem ousou sonhar e lutou contra o racismo: sobreviventes do Esquadrão 99 (negros pilotos de caça e oficiais de apoio) que conquistaram a proibição da discriminação racial no Exército; e "Os Nove de Little Rock", em 1957, com 14 ou 15 anos, impedidos, por soldados, de entrar na Central High School por ordem do governador do Arkansas. O presidente Eisenhower garantiu, sob escolta de tropas nacionais, a permanência deles na escola. Carlotta Walls, uma das protagonistas, declarou: "Era difícil de lidar, mas não fugimos. Sabíamos que tínhamos o direito de estar ali. Tudo o que queríamos era igualdade no acesso ao melhor ensino e a chance do sonho americano". Eis os signos e o simbolismo do governo Obama.
*Fatima Oliveira, Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005

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