PARA REFLETIR...

"Eu preferiria ser um fracasso em algo que amo, do que um sucesso em algo que odeio."
(George Burns)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O bom Obama, por Italo Gurgel

Quando cessaram os aplausos, Barak Obama pôde ouvir melhor o troar dos canhões nas guerras em que George Bush envolveu seu país. Pôde captar com mais nitidez o barulho das máquinas desacelerando nas indústrias, o clamor dos desempregados, o ranger de dentes dos que especularam na Bolsa e perderam milhões, por conta da crise financeira em que o mesmo Bush mergulhou o planeta. O 44º Presidente dos Estados Unidos vai ter essa sinfonia de horrores como background sonoro, acompanhando todos os seus passos, do Salão Oval aos banheiros da Casa Branca. Jovem e brilhante, inaugurando a figura de um presidente negro no comando da superpotência norte-americana, Obama reúne condições para impor mudanças. Que não serão radicais, isto é certo. Não se espere que os EUA removam as barreiras à importação de produtos brasileiros, que condenem Israel, abdiquem das intervenções militares e suspendam o bloqueio a Cuba. Os tentáculos das megacorporações, as garras do grande capital vão continuar manipulando os cordéis em Washington. Sempre foi assim, independente de quem ocupa o trono: um democrata ou um republicano. O efeito Obama há de se fazer sentir mais pelo que ele representa – uma mudança – do que pelo teor dos decretos que assinar. A crise financeira, com devastadoras consequências na economia mundial, há de arrefecer porque, em grande medida, ela é psicológica, é uma crise de confiança: inicialmente no mercado imobiliário, depois nos bancos, nas bolsas de valores, nas empresas. No fundo, trata-se de uma crise de confiança no próprio sistema capitalista. Muitas vezes, quando a irracionalidade é quem dá as cartas, uma troca no figurino, no cenário, no script, pode fazer grande diferença. Obama é sangue novo nesse teatro. É a figura mais diferente que poderia subir ao palco, o contraste mais forte que se poderia estabelecer com relação a Bush. Basta isso. Eis a mudança que faltava para tranquilizar a nervosa platéia.
Italo Gurgel - Jornalista

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