PARA REFLETIR...

"Eu preferiria ser um fracasso em algo que amo, do que um sucesso em algo que odeio."
(George Burns)

terça-feira, 10 de março de 2009

Que ortographia é essa?


Ao retirar o acento da palavra “Assembléia”, na fachada do prédio de um Legislativo estadual, o funcionário confessou que guardaria cuidadosamente a peça. “Se voltar ao que era antes, a gente recoloca”, comentou prudente. E desconfiado. Não, o acento em ditongos abertos, como o dessa palavra, não vai voltar. Foi extinto com a entrada em vigor do acordo ortográfico assinado pelos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A reforma ortográfica veio para ficar. Dentre outras mudanças, o pacto também extingue o trema e altera o uso do hífen, com o propósito é diminuir as diferenças entre a língua escrita por brasileiros e portugueses. Nessa perspectiva, as mudanças adotadas foram até bastante tímidas. Poderiam ter ido mais longe, fazendo a última flor do Lácio avançar com mais celeridade no rumo da simplificação. Simplificar para quê? Neste caso, para adequar a escrita da língua à forma como se pronunciam as palavras, facilitando o aprendizado. Ao operarem assim, os reformadores priorizam a fonética (o som) em detrimento da etimologia (origem) da palavra. Determinaram que se suprimissem as consoantes mudas do português de Portugal, onde se escrevia “acção”, “adopção”, “projecto”. O mesmo propósito havia inspirado a reforma de 1911, quando se extinguiram dígrafos como o “ph” de “farmácia”, o “th” e o “rh”. A corrente oposta a esse tipo de mudança é aquela que gostaria de ver a língua de Camões mais fiel a suas origens latinas e gregas. Como o Francês, que, até os nossos dias, preserva um sistema ortográfico conservador e complexo. Extemporânea? Incompleta? Inoportuna? Essa discussão já se encerrou. A reforma ortográfica da Língua Portuguesa não tem retrocesso. Mesmo que seja longo o prazo para colocá-la em prática, não há por que se protelarem os primeiros passos. É hora de derrubar os tremas e reaprender o uso do hífen... aprove-se ou não essa ideia (sem acento).

ITALO GURGEL - Jornalista, Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa italogurgel@yahoo.com.br

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